Coluna de Iago Molinari

Automação contábil e IA: por que 2026 vai separar quem usa de quem controla a tecnologia

Entenda como dominar a automação e a IA pode transformar o papel do contador, tornando a tecnologia uma aliada para aprofundar o relacionamento humano e assumir protagonismo estratégico em 2026.

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A contabilidade está vivendo a maior transformação da sua história. De um lado, softwares prometendo “IA integrada” para interpretar dados ou responder clientes. Do outro, contadores acreditando que, ao contratar essas ferramentas, já estão prontos para o futuro.

Mas aqui está a verdade nua e crua: isso é só a ponta do iceberg.

Automação e inteligência artificial não são um fim em si mesmas. São um meio para reposicionar o contador — não como um operador de sistemas, nem como um “consultor genérico” que entrega relatórios automáticos, mas como alguém que constrói relações profundas, interpreta contextos e gera confiança inegociável.

A falsa promessa da “IA pronta”

O mercado está cheio de discursos sedutores: “libere tempo para virar consultor”, “deixe a operação e vá só para a estratégia”, “seja um contador digital”

Na prática, porém, muitos desses softwares fazem apenas um pedaço da engrenagem. Resumem uma informação aqui, automatizam uma resposta ali, classificam um dado acolá. Só que, para rodar, exigem que você redesenhe toda a sua rotina em torno das limitações da ferramenta. É a lógica do “se adapte ao software para ele funcionar”.

Eu penso diferente. Como alguém que já atuou como consultor de criação e redesenho de processos, parto de outra premissa: meus processos vêm primeiro. É a tecnologia que deve se adaptar ao jeito que quero conduzir o meu negócio — não o contrário.

E não caia na desculpa de que isso significa “ter que criar um sistema novo e caro”. Na prática, quando você desenha seus processos de forma clara, passa a ter liberdade para comparar várias ferramentas no mercado, avaliar custo-benefício e escolher a que mais se encaixa. Se não der certo, você troca de software — simples assim. Melhor trocar a ferramenta do que refazer o processo da empresa inteira e lidar com a resistência do time a cada seis meses.

Quem se curva ao software se torna refém do que ele consegue entregar. Quem coloca seus processos no centro assume o controle: é o escritório ditando como a tecnologia deve trabalhar — e não a tecnologia ditando como o escritório deve funcionar.

E aqui está o ponto: a ideia de que o contador do futuro será apenas alguém que “fala mais com o cliente mostrando dados” já ficou para trás. O cliente não quer relatórios frios. Quer clareza, proximidade e decisões que realmente façam sentido no seu dia a dia.

Quando a tecnologia afasta em vez de aproximar

Na Aclari, decidimos implantar um bot para agilizar o atendimento. O objetivo era bom: acolher o cliente imediatamente, sem espera.

Mas logo recebemos uma reclamação de um cliente altamente digital, que disse: “Às vezes eu quero falar com o Iago. E sinto que vocês dificultam isso.”

Esse cliente tem meu número pessoal, poderia me chamar quando quisesse, mas respeita os processos. Ainda assim, percebeu que as camadas que criamos o afastaram justamente do contato que ele mais valorizava.

E o mais curioso: esse é o mesmo cliente que me ligou no dia em que minha filha nasceu, poucas horas depois do parto, enquanto eu ainda estava no hospital. Ele lembra disso até hoje. Não pela resposta que eu dei, mas pela proximidade de saber que podia falar diretamente comigo num momento tão marcante da minha vida.

Essa experiência me fez refletir: será que estamos olhando apenas o macro e esquecendo de analisar por camadas, por grupos de clientes? Porque, nesse caso, falar com esse cliente era estratégico.

Automatizar não pode ser sinônimo de se esconder do cliente.

Quando o contato humano é o verdadeiro diferencial

Outro aprendizado veio dos nossos clientes psicólogos. Cerca de 50% da nossa base está nesse público, geralmente leigo em contabilidade e preocupado em pagar o menor imposto possível sem correr riscos.

Em uma pesquisa de satisfação, a resposta mais recorrente não foi sobre relatórios. Foi sobre atendimento rápido, atencioso, eficaz e feito por pessoas de verdade.

Para eles, entender 90% não basta. Precisa ser 101%.

Nosso papel estratégico, então, não é entupir esse cliente de dashboards. É automatizar tudo o que ele não valoriza para que nosso time tenha tempo de atendê-lo com calma, precisão e confiança.

O que grandes líderes já entenderam

Alfredo, do G4, afirmou recentemente que ainda faz questão de falar diretamente com clientes em várias ações da empresa. Isso em uma companhia que espera faturar R$ 500 milhões até o fim de 2025.

Se um grupo desse porte ainda valoriza a proximidade, por que tantos contadores acreditam em cursos que pregam: “saia 100% da operação e foque só em estratégia”?
Afinal, o que é operação e o que é ação estratégica dentro de um escritório contábil? Quem define essa linha?

De que adianta planejar estratégias incríveis se os riscos da operação estão mal geridos? Estratégia sem operação sólida é ilusão.

Como fazer e por onde começar

Falar em “controlar a IA” pode soar distante, mas não é. O caminho é bem mais prático do que parece.
Na essência, o contador precisa usar a tecnologia para zerar o tempo gasto em atividades manuais, repetitivas e lógicas, liberando a energia do time para onde realmente faz diferença: relacionamento, interpretação de contexto e proximidade com o cliente.

E como isso acontece na prática?
O primeiro passo é entender mais sobre automação. Não estou dizendo que todo contador precisa virar programador. Estou dizendo que precisa, ao menos, conhecer o que já existe de acessível.

Hoje temos plataformas de automação no-code (sem código de programação) como Make e n8n, que permitem conectar sistemas diferentes, criar fluxos inteligentes e disparar ações automáticas com base em eventos simples, usando APIs (interfaces de integração entre sistemas) e webhooks (gatilhos que comunicam softwares entre si).

Quer um exemplo real?

Na Aclari, enfrentávamos um desafio com o cálculo do Fator R — um verdadeiro calcanhar de aquiles dos escritórios. Pouquíssimos softwares oferecem essa funcionalidade, e quando oferecem, quase nunca funciona bem. Antes, gastávamos cerca de 5 dias em planilhas para cada rodada de cálculo.

Criamos um fluxo automatizado com ferramentas no-code. O sistema passou a receber dados de faturamento (parte deles também captados de forma automática) e, a partir disso, já identificava se a empresa tinha menos de 12 meses de vida (cálculo proporcional) ou mais de 12 (últimos 12 meses). Em seguida, através de fórmulas definidas, informava automaticamente o valor de folha necessário para o próximo período no Anexo III.

O resultado foi impressionante: reduzimos de 5 dias de trabalho para apenas 2 horas.

Esse projeto deu tão certo que virou MVP (Produto Mínimo Viável) do nosso próprio sistema de cálculo e envio de informações ao cliente.

Isso é “controlar a IA”: não depender do que o software pronto entrega, mas ditar as regras do jogo e moldar a tecnologia ao processo.

E não para por aí. Outro caminho é buscar agências especializadas em automação e inteligência artificial. É um investimento que encurta a curva de aprendizado e acelera a implantação. Eu mesmo fundei uma empresa ao lado de um sócio especialista em IA justamente para atender negócios que precisam dessas soluções. Não falo isso como pitch, mas como prova de que essa demanda é real e crescente.

O contador que quiser ser protagonista em 2026 precisa parar de se ver apenas como usuário de software. Precisa ser alguém que entende os mecanismos que colocam a máquina para trabalhar a seu favor.

O novo papel do contador em 2026

Em breve, a automação vai eliminar funções lógicas, técnicas e repetitivas. A IA vai assumir tarefas que não exigem criatividade ou julgamento humano. Isso não significa substituir pessoas — significa substituir funções.

E aqui está a virada: os escritórios que prosperarem serão aqueles que usarem a tecnologia para aprofundar o relacionamento humano.

O contador do futuro não será especialista em relatórios. Será especialista em pessoas.
E não existe estratégia sem operação sólida, assim como não existe consultoria sem proximidade.

Estamos diante de um divisor de águas.
Nos próximos anos, existirão dois tipos de escritórios contábeis:

  • Os que usam IA de forma passiva, limitados ao que o software entrega.
  • E os que controlam a IA dentro do seu escritório, ditando o que ela faz, construindo soluções próprias e colocando a máquina para trabalhar como parte da estratégia.

Um será dependente. O outro será protagonista.

E você, contador: vai deixar que a tecnologia dite como você trabalha, ou vai assumir o controle e usá-la para se aproximar — de verdade — dos seus clientes?

Iago Cardoso Molinari é Diretor e cofundador da Aclari Inteligência Contábil, escritório referência em contabilidade para profissionais da saúde e negócios digitais. Atua desde 2018 na área e tem experiência como consultor em criação e redesenho de processos empresariais. É também empreendedor à frente da Insert IA, empresa dedicada a automação e inteligência artificial aplicada a negócios. Sua missão é transformar a contabilidade em uma aliada estratégica para empreendedores, unindo tecnologia e relacionamento humano.

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